Publicarei alguns textos que foram apresentados no Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária, realizado em São Luís em 2012.
A
verminose ainda causa prejuízos na pecuária de corte?
As infecções por helmintos em ruminantes são geralmente
subclínicas, mas, em alguns casos, podem determinar perdas econômicas
significativas devido à mortalidade e perda de peso dos animais. A mortalidade
causada pela verminose em bezerros taurinos, em algumas regiões do Brasil,
varia entre 10 e 30% e a diferença no ganho em peso entre os animais não
tratados e tratados é de 50 kg / bezerro (Pinheiro et al., 2000). Em criações
extensivas de bovinos de corte no Centro-Oeste brasileiro, a verminose pode
causar 2% de mortalidade e perda de peso de 41kg por animal até momento do
abate (Bianchin, 1997).
Os helmintos de maior importância em bovinos, na maior parte
do Brasil, são Cooperia spp. e Haemonchus placei, que são o mais
prevalentes, com maior intensidade de infecção (Santos et al 2010) e mais relatos
de resistência aos anti-helmínticos (Borges et al., 2005; Soutello et al., 2007;
Souza et al., 2008, Feliz, 2011).
Haemonchus placei é um dos nematodas mais patogênicos
de bovinos no Brasil, causando perda de peso, anemia e alteração da
distribuição de albumina do meio intravascular para o extravascular (Gennari et
al., 1991). Sua importância tem se destacado, pois a intensidade de infecção (número
de parasitos/hospedeiros parasitados) em bovinos aumentou de 18,5% em 1999
(Borges et al., 2001), para 35,08% em 2010 (Santos et al., 2010).
O efeito do parasitismo por Cooperia spp. em bovinos ainda carece de mais estudos. Louvandini
et al. (2009) mostraram que a infecção por C.
punctata causou menor consumo de ração e, consequentemente, o ganho de peso
vivo. A principal alteração metabólica observada nos hospedeiros foi a interferência
na cinética de fósforo, causando redução em sua ingestão, absorção e retenção.
Recentemente, Stromberg et al. (2012) avaliaram o efeito de C punctata em bovinos e observaram
efeito deletério sobre a ingestão de matéria seca (0,68 kg/dia) e do ganho de
peso (0,11kg/dia) num período de 60 dias.
Impacto da resistência na produção
de bovinos de corte
O controle da verminose em bovinos é realizado, principalmente, pela utilização de formulações
anti-helmíntica. No início da década de 1980, com o surgimento das
avermectinas, especialmente ivermectina (IVM), houve uma revolução no mercado
veterinário para o controle de parasitas (Geary, 2005). Este grupo químico tem
sido utilizado indiscriminadamente e, embora o número de relatos de resistência
em bovinos seja menor do que em ovinos, o problema relacionado com IVM em
bovinos já pode ser considerado global (Sutherland e Leathwick, 2011).
Ao contrário da resistência a carrapaticidas e inseticidas,
que é visualmente perceptível nos animais, a ineficácia de formulações
anti-helmínticas muitas vezes passa despercebida, pois a imagem clássica de
bovinos acometidos por verminose com sinais clínicos característicos, como
perda de peso, pêlos arrepiados e aumento de volume abdominal, quase não é mais
observada em bovinos de corte. Portanto, a principal consequência de falhas no
controle da verminose pode não ser a mortalidade ou perda de peso dos bovinos,
mas o menor desempenho produtivo.
O reduzido aumento na produtividade de bovinos de corte após
o tratamento com anti-helmíntico foi demonstrado em um estudo com duração de
140 dias. Enquanto bezerros tratados com doramectina (DORA) (dois tratamentos a
intervalo de 56 dias) apresentaram diferença de ganho de peso médio de 14,1 kg
em relação aos animais não tratados, o tratamento em dose única de IVM (630 µg/kg)
resultou em aumento de peso de apenas 2,8 kg (Leite et al., 2000). Em outro
estudo realizado no Brasil,
observou-se que o anti-helmíntico mais eficaz mostrou eficácia de 80% e resultou em um aumento (P <0 ...="">0>
observou-se que o anti-helmíntico mais eficaz mostrou eficácia de 80% e resultou em um aumento (P <0 ...="">0>
Resultados semelhantes foram encontrados na Nova Zelândia,
onde há vários relatos de resistência anti-helmíntica em bovinos. Estudos
preliminares mostraram que o controle ineficaz de Cooperia oncophora resistente resultou em diferença de 14 kg no
ganho de peso de bezerros de corte aos 12 meses de idade (Sutherland e
Leathwick, 2011).
Estes resultados são preocupantes, uma vez que a resistência
à DORA e IVM em bovinos de corte está generalizada no Brasil e em outros países,
como será discutido a seguir. Neste cenário, o impacto da resistência
anti-helmíntica na produção de bovinos de corte brasileira pode ser muito mais
grave do que se pensava anteriormente.
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