sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O problema da resistência anti-helmíntica Resistência anti-helmíntica em bovinos no Brasil


Publicarei alguns textos que foram apresentados no Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária, realizado em São Luís em 2012.

A verminose ainda causa prejuízos na pecuária de corte?
As infecções por helmintos em ruminantes são geralmente subclínicas, mas, em alguns casos, podem determinar perdas econômicas significativas devido à mortalidade e perda de peso dos animais. A mortalidade causada pela verminose em bezerros taurinos, em algumas regiões do Brasil, varia entre 10 e 30% e a diferença no ganho em peso entre os animais não tratados e tratados é de 50 kg / bezerro (Pinheiro et al., 2000). Em criações extensivas de bovinos de corte no Centro-Oeste brasileiro, a verminose pode causar 2% de mortalidade e perda de peso de 41kg por animal até momento do abate (Bianchin, 1997).
Os helmintos de maior importância em bovinos, na maior parte do Brasil, são Cooperia spp. e Haemonchus placei, que são o mais prevalentes, com maior intensidade de infecção (Santos et al 2010) e mais relatos de resistência aos anti-helmínticos (Borges et al., 2005; Soutello et al., 2007; Souza et al., 2008, Feliz, 2011).
Haemonchus placei é um dos nematodas mais patogênicos de bovinos no Brasil, causando perda de peso, anemia e alteração da distribuição de albumina do meio intravascular para o extravascular (Gennari et al., 1991). Sua importância tem se destacado, pois a intensidade de infecção (número de parasitos/hospedeiros parasitados) em bovinos aumentou de 18,5% em 1999 (Borges et al., 2001), para 35,08% em 2010 (Santos et al., 2010).
O efeito do parasitismo por Cooperia spp. em bovinos ainda carece de mais estudos. Louvandini et al. (2009) mostraram que a infecção por C. punctata causou menor consumo de ração e, consequentemente, o ganho de peso vivo. A principal alteração metabólica observada nos hospedeiros foi a interferência na cinética de fósforo, causando redução em sua ingestão, absorção e retenção. Recentemente, Stromberg et al. (2012) avaliaram o efeito de C punctata em bovinos e observaram efeito deletério sobre a ingestão de matéria seca (0,68 kg/dia) e do ganho de peso (0,11kg/dia) num período de 60 dias.



Impacto da resistência na produção de bovinos de corte
O controle da verminose em bovinos é realizado,  principalmente, pela utilização de formulações anti-helmíntica. No início da década de 1980, com o surgimento das avermectinas, especialmente ivermectina (IVM), houve uma revolução no mercado veterinário para o controle de parasitas (Geary, 2005). Este grupo químico tem sido utilizado indiscriminadamente e, embora o número de relatos de resistência em bovinos seja menor do que em ovinos, o problema relacionado com IVM em bovinos já pode ser considerado global (Sutherland e Leathwick, 2011).
Ao contrário da resistência a carrapaticidas e inseticidas, que é visualmente perceptível nos animais, a ineficácia de formulações anti-helmínticas muitas vezes passa despercebida, pois a imagem clássica de bovinos acometidos por verminose com sinais clínicos característicos, como perda de peso, pêlos arrepiados e aumento de volume abdominal, quase não é mais observada em bovinos de corte. Portanto, a principal consequência de falhas no controle da verminose pode não ser a mortalidade ou perda de peso dos bovinos, mas o menor desempenho produtivo.
O reduzido aumento na produtividade de bovinos de corte após o tratamento com anti-helmíntico foi demonstrado em um estudo com duração de 140 dias. Enquanto bezerros tratados com doramectina (DORA) (dois tratamentos a intervalo de 56 dias) apresentaram diferença de ganho de peso médio de 14,1 kg em relação aos animais não tratados, o tratamento em dose única de IVM (630 µg/kg) resultou em aumento de peso de apenas 2,8 kg (Leite et al., 2000). Em outro estudo realizado no Brasil,
observou-se que o anti-helmíntico mais eficaz mostrou eficácia de 80% e resultou em um aumento (P <0 ...="">
Resultados semelhantes foram encontrados na Nova Zelândia, onde há vários relatos de resistência anti-helmíntica em bovinos. Estudos preliminares mostraram que o controle ineficaz de Cooperia oncophora resistente resultou em diferença de 14 kg no ganho de peso de bezerros de corte aos 12 meses de idade (Sutherland e Leathwick, 2011).
Estes resultados são preocupantes, uma vez que a resistência à DORA e IVM em bovinos de corte está generalizada no Brasil e em outros países, como será discutido a seguir. Neste cenário, o impacto da resistência anti-helmíntica na produção de bovinos de corte brasileira pode ser muito mais grave do que se pensava anteriormente.


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